Friday, November 27, 2009

Opinion of the Week: "Condemned to Prosperity"

Opinião da Semana: "Condenado à prosperidade"

Como prometido, no meu primeiro post sobre o reporte especial da revista inglesa, The Economist, volto a escrever sobre o assunto. Só que desta vez pretendo aprofundar-me na análise de um dos artigos que compõem as 14 páginas da reportagem.

Entitulado "Condemned to Prosperity" o artigo me fez lembrar da Part I do livro "As veias abertas da América Latina" do uruguaio Eduardo Galeano pois o mesmo faz referência às riquezas latino-americanas.

Na matéria a revista diz:
Não muitos países levam o nome de commodities. Tem a Argentina, que provem da palavra em latim que significa prata; Costa do Marfim, que serve de lembrete que as riquezas naturais nem sempre levam à prosperidade; Panamá e Uruguai, cujos nomes podem ter origem de palavras índigenas para peixe; e também o Brasil, que ficou famoso pele sua madeira, o pau-brasil, fonte de uma valiosa tintura. O Brasil já passou por vários booms: o dos metais preciosos no século XVII, açúcar no XVIII e café no XIX. Mesmo assim nenhum beneficiou mais o país tanto como o atual.
No caso, a revista se refere à grande descoberta de petróleo na costa do país feita pela Petrobras em 2007, que tem, desde então, gerado muito entusiasmo. Mas apropriadamente a revista nos lembra que "é fácil esquecer que o Brasil já é de fato o maior exportador de café, açúcar, frango, carne e suco de laranja". Não só isso, mas também menciona a liderança do Brasil na comercialização de soja e minérios de ferro, assim como outros minérios e metais.

Vejo que a situação do Brasil, como país de commodities, assim como na grande maioria dos países da América Latina, não tem mudado muito desde que o escritor Galeano notara em seu livro escrito em 1970 que a região continua sendo um provedor de matérias-primas para os países ricos. Nada novo baixo o sol, pelo visto.

É que, apesar de tanta riqueza, ainda continuamos a viver na pobreza. O artigo em questão, retrata apenas dois problemas que enfrenta esse setor lucrativo, mas aponta que o Brasil já superou certos obstáculos que o puseram no centro da economia global. Um deles, "o aprimoramento do sistema financeiro" que deu passo à "maior estabilidade econômica que permitiram às empresas investir sem medo" e o outro o aumento na demanda de commodities à nível global, pelo qual vários países incluindo o Chile tem sido beneficiados.

Os problemas

Um deles é, ainda, o da reforma agrária, quem tem direito à terra. A matéria cita o MST e tenta explicar a complexidade da instituição ao mencionar a diversidade de seus membros, sendo que alguns são associados à assassinos e outros verdadeiros líderes em inovação e justiça social. A outra questão ainda em relação à distribuição da terra se relaciona à Amazônia, lugar onde vários preferem o desmatamento para a apropriação de terras.

O outro grave problema, que gostaria de discutir em mais detalhe é o problema de infraestrutura. Se bem é certo que nenhum brasileiro precisa ser mais uma vez lembrado dos problemas nas rodovias, etc. vale a pena destacar uns trechos do artigo em relação a esse problema.

Estradas perdidas













Um segundo problema que segura os produtores de commodities é a infraestrutura desigual no Brasil. Depois de examinar muitos dados, a Comissão de Crescimento do Banco Mundial concluiu que, com objetivo de continuar crescendo rápido, os países em desenvolvimento devem investir ao redor de 25% do seu PIB, dos quais 7% devem ir para infraestrutura.

Mas, por íncrivel que pareça, em 2007, no mesmo ano da descoberta de petróleo, o país investiu apenas 0.1% do PIB na melhora do transporte, segundo a revista. Ela diz que enquanto algumas empresas, como a Vale, por exemplo, não sofrem com esse problema, pois possui sua própria malha ferroviária, o país continua a usar como principal meio de transporte às rodovias.

No momento em que as mercadorias são carregadas em caminhões, tudo fica mais devagar. Os caminhões do Brasil tem em média, 14 anos de idade. Seus para-choques são normalmente adornados com letras de grande altura declarando que o motorista depositou sua fé em Deus, o que é considerada boa coisa, devido ao estado das estradas e algumas das ultrapassagens que faz com o caminhão.
Mas o problema não para aí. O problema com a infraestrutura é bem mais complexo. A matéria, contudo, enxerga o problema como um freio ao aumento da exportação dessas matérias-primas. Ela falha em notar, por exemplo, a violência e as mortes nas estradas do Brasil. Ela não parece importar-se muito com isso. Afinal, o que interessa é como a riqueza natural do Brasil chega ao mercado internacional.

Mas, como já mencionei em outro artigo, a revista não tem, ou não teve, como intenção expor os profundos problemas administrativos do governo brasileiro. Mas, dá pinceladas, oferece aqui e acolá menções das falhas e acertos da administração atual. "Mas mesmo quando o governo federais e estaduais estão por tras de projetos de infraestrutura e o dinheiro foi alocado, frequentemente nada acontece", diz a revista.

Problemas como esse são comúns, muito comúns no Brasil. Acredito que o pior de todos os problemas é na política, aquela que vem desde cima para baixo, do governo aos cidadãos. A iniciativa tem que ser geral, vir de todos os níveis. No Brasil é común o pensamento do "é cada um por sí", o aproveitamento das riquezas naturais, o que chamam commodities, é a apropriação do dinheiro público é um dos grandes males do país.

Quer dizer que o Brasil, assim com a maioria dos países da América Latina, estão condenados à riqueza e o risco de não saber gerenciá-lo. A floresta amazônica, as grandes extensões de terra já disponíveis para a agricultura e a recente descoberta do petróleo são os grandes desafios do Brasil. Como fazer com que a descoberta do pré-sal não se torne um suicidio ambiental? Como fazer com que a ganância e o roubo que atualmente permeiam o país não transformem tal riqueza em maldição?

A desmatamento da floresta amazônica, a extração de mineiras e as mortes que dela provem é descrita na revista. Infelizmente esse é o caminho errado tomado uma e outra vez pelos governantes e outros envolvido no negócio de commodities.

Sem uma análise detalhada da situação política no Brasil, em junção à situação econômica, a revista perde a chance de fazer a diferença. É que por causa do roubo e manipulação atual de nossas riquezas que não só os cidadãos comuns mas empresários e todos saimos perdendo.

A história tão bem descrita no livro de Galeano continua a soar certa ainda hoje e continuará no futuro próximo da América Latina.

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