Monday, January 18, 2010

An Inconvenient Truth: an honest approach to politics in Latin America

Uma verdade incoveniente: uma visão honesta sobre a política na América Latina.

Já ouviram falar desse documentário, "Uma Verdade Inconveniente"? Pois é, ajudou a propagar a ideia que o aquecimento global é uma ameaça real. Tanto mudou nossas percepções que hoje em dia nossa consciência "verde" em grande parte se deve ao esforço deste filme.


É óbvio, no entanto, que houveram exageros no filme. A verdade em sí, é relativa. Há muitas coisas alí descritas que são impossíveis de medir. Mas na dúvida, e com o excesso de evidência do perigo de continuarmos no caminho à auto-destruição, achamos melhor prestar atenção.

Assim como este filme, que representa uma conscientização global de um problema que concerne a todos nós, há também a conscientização daqueles que não acreditam nos efeitos da contaminação e papel do homem sobre a natureza. Vários argumentam sem razão, mas há vários que conseguem ser lúcidos em alguns pontos. Principalmente aqueles que questionam iniciativas renováveis que são inúteis.

Na política, principalmente a latino-americana, não é diferente. Percebemos há muito tempo que há um problema grave e auto-destructor. A pobreza era uma ameaça à democracia. Houve, nos últimos anos, uma conscientização que levou as pessoas a votar por um sistema mais humanitário, mais social. Uma virada à esquerda.

Porém, e como no caso do aquecimento global, há alguns fanáticos, os de direita, que se negam de qualquer maneira a ver a verdade. Mas há vários entre estes, principalmente os de "esquerda" que se dizem a favor de mudanças mas nada fazem. Se aproveitam para faturar em cima de temas tão importantes, se dizem preocupados com a pobreza, mas continuam a contribuir para que a desigualdade nunca acabe. É a cultura dos "renováveis", o "verde", mais que na verdade, não passa mais de que propaganda e se torna mais uma forma de gerar lucros.

Então, me pergunto. Com uma "esquerda" oportunista e até perigosa, como a vista na América Latina de hoje, que se aproveita desta verdade, para faturar e que atúa como direita, e com essa direita que faz de tudo em negar a auto-destruição, quem será que ganha? O planeta e nossas vidas continuam aguardando mais uma catástrofe, como a do Haiti, acontecer, mais uma vez.

Até quando, iremos ignorar, ser indiferentes e continuar com essa guerrinha inútil de "direita" contra "esquerda"? Usando até de tragédias como a do Haiti para justificar horrorosas acusaçóes políticas? É inconveniente ver a dor alheia e ter que fazer algo por ela. É também inconveniente, ver somente o lado podre de cada lado e muito mais inconveniente é deixar de lutar para melhorar o problema maior em nosso continente: a injustiça social.

Encontrar solução não é uma tarefa fácil, mas não é simplesmente dando de comer e beber aos pobres que iremos ajudar. Assim como no Haiti, onde algo deve ser feito para que suprir essas necessidades básicas primeiro, algo em concreto deve ser feito, não só pelo governo, mas pelas comunidades para melhorar de vez a situação no país.

O use de pílulas anti-concepcionais, principalmente em áreas mais pobres, nas favelas, educação em todos os sentidos e mudança no comportamento das elites em relação às camadas mais humildes é parte da solução. Enquanto isso não acontecer, a corrupção que invade nossos países continuará a existir, a violência e o desemprego também. E o pior, a impunidade também.

Nem mesmo o Chile, um dos países mais bem posicionados na América Latina, se escapa deste grande mal. É uma verdade inconveniente sim, mas devemos começar parando de ver as coisas com dois lados e começar a fazer algo concreto, com ou sem ajuda do governo.

Apoiar atitudes como a de Boris Casoy que recentemente demostrou preconceito contra garis em nada contribue. Apoiar preconceito contra o mesmo, pior ainda. Todos erramos, mas nada justifica a atitude que teve. De fato, é por conta dela, e dela somente que a direita da elite é o que é, e a esquerda continua enganando o povo mais simples hoje. Pensem nisso.

Se Martin Luther King existisse hoje sua mensagem continuaria a mesma: "A pergunta mais persistente e urgente que a vida nos faz é: o que você faz pelos outros?" Pois afinal de contas, como ele mesmo disse, "Injustiça em qualquer lugar, é uma ameaça a justiça em todo lugar" E esta sim, é a "verdade inconveniente"que assola nossa América Latina e mundo.


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Sunday, January 17, 2010

MLK Day: Reflections on Haiti and our reactions to the tragedy

Dia de Martin Luther King: Reflexões sobre o Haiti e nossas reações à tragédia

Me contive em falar sobre a desgraça no Haiti aqui no blog por vários motivos. Preferi emitir meus comentários pelo Twitter nos últimos dias. Confesso que mesmo alí, cometi o erro vários vezes de "falar" com a emoção e nem sempre essa é uma boa ideia. Decidi esperar. Mas de nada serve, continuo a sentir a mesma indignação e a mesma reação que tive no começo. Pra mim esta tragédia é mais grave pelo descaso humano, que pelo resultado da própria natureza.

A tragédia em Angra, causada pelas chuvas fortes, no primeiro dia do ano, e logo após as enchentes que deixaram vários sem lar em São Paulo e outras regiões pelo Brasil afora, também me chocaram. Mas nada como o que vi, nem mesmo em Katrina, se compara ao nível de devastação visto no Haiti. É uma tragédia de proporções infinitamente maiores.

No entanto, e apesar de que tragédias são todas iguais na sua natureza, seja pessoal ou coletiva, pois implica uma dor, sofrimento fora do comum, geralmente associado com a morte, seria impossível qualificar a tragédia do Haiti como mais uma tragédia. Não é.

Há vários assuntos que gostaria de tocar aqui. Pra falar a verdade, não sei bem por onde começar. Mas acho que entender isso já é um bom começo. Como comparar a destruição total de um país à de uma família, um bairro, ou até uma cidade apenas? Porto Príncipe foi a área mais afetada, mais é quase impossível qualificar o efeito que esta tragédia toda terá no país inteiro, na região e até no mundo.

Foto do AP. Destruição do Palácio do Haiti.

A questão não é comparar dores, mas pense bem 70,000 (que foi a última estatística que vi sobre o número de mortos) 100,000... 200,000 ou qualquer outro número é gente demais, não é? E os milhões que ficaram sem lar juntos aos milhares que estão feridos e que ainda hão de morrer por descaso? Um país que já tinha infra-estrutura frágil e ineficiente, agora completamente sem nada.

Sem liderança, sem governo, sem polícia, sem hospitais, sem escolas, sem NADA!

E o horror de ver pessoas enterradas vivas? Em ver pessoas morrerem após serem resgatadas por falta apenas de atendimento médico? Incrível ver a incapacidade de brasileiros em perceber este problema e chamá-lo como tal. Não me refiro a todos, claro, mas vi vários tentar usar a tragédia com Haiti como desculpa para discutir problemas político e se manifestar somente em relação à morte de quem rápidamente elevam a status de "santa", me refiro à Zilda Arns. Como se a vida dela fosse mais importante de que a morte de milhares de pessoas.

Sim, ela foi uma pessoa de vida admirável, uma alma de luz, que se dedicou a ajudar outros. Porém, cabe a todos nós pensar exatamente porque nós não paramos para pensar no sofrimento alheio no dia-a-dia, como ela fazia. Qualquer tragédia, aquela de uma garoto abandonado em um orfanato, doente de AIDS, carente de carinho ou aquela outra de garotos de 8 a 11 anos cheirando craque nas ruas de São Paulo, roubando para poder sobreviver. Essas tragédias são todas partes do cotidiano de nosso país, não são? Eu sei disso, morei no Brasil.

Claro, que graças a jornalistas como Gustavo Chacra, que escreve para o Estadão (Blog De Beirut a Nova York) ou repórteres como Rodrigo Alvarez, correspondente da Globo em Nova York, que se encontram no Haiti, podemos ver realmente a magnitude desta tragédia.

(Vejam aqui a matéria excelente, e na íntegra, de Rodrigo no Haiti)




Pena que não todos os brasileiros pensem igual, não é? É uma vergonha que usem tamanha atrocidade para discutir questões políticas. Me parece que esta não é nem a hora nem o lugar e que ao invés de questionarem motivaçõs políticas, deveriam questionar a religião, a falta de humanidade da mesma e de sí mesmos ao deixar essas pequenas tragédias diárias ocorrerem.

Afinal, tragédias acontecem todos os dias e ao escolhemos ser indiferente a elas até quando não há outra opção. Até quando algo desta magnitude acontece. Isso não deveria acontecer.

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A strong race for Chile's presidency.

Um corrida acirrada pela presidência no Chile.

As eleições do Chile hoje, marcam uma corrida disputada pelo primeiro lugar. A grande pergunta é, portanto, quem será o grande vencedor deste segundo turno?

Foto: BBC Brasil. Todos os direitos reservados

De um lado temos o candidato da Concertação: Eduardo Frei, um ex-presidente (1994-2000) cujo partido está no poder há 20 anos; desde 1990 quando o país saiu da ditadura do General Augusto Pinochet. Seu partido de centro-esquerda, é o principal motivo de insatisfação dos chilenos que reclamam que seus membros usurpem privilégios há anos, ajudando a manter o status-quo e a desigualdade política no país.

De outro, temos o candidato da direita: Sebastián Piñera, empresário muito bem sucedido, que perdeu a eleição de 2006 para a presidenta atual do Chile, Michelle Bachelet. Um homem de negócios, que conta com apoio das classes mais ricas, este candidato aparece agora como a única opção viável de mudança na estrutura política do país. Porém, sua associação com Pinochet no passado parece ser um dos grandes empecilhos, uma grande pedra em seu sapato, na sua caminhada rumo ao poder no Chile.

Piñera obteve 44% no primeiro turno, dia 13 de dezembro. Já Frei ganhou 29.6%. Uma recente pesquisa revela que a diferença neste segundo turno, no entanto, é de aproximadamente 2%, considerando a margem de erro de 3%. Piñera teria 50.9 e Frei 49.1 por cento, de acordo com artigo de hoje da Reuters.

O clima é de otimismo para os dois candidatos no Chile. O candidato Frei está confiante e já se declara ganhador. Ele diz, "Amanhã serei presidente de todos os chilenos". Mas será?

Devido a um terceiro candidato, o independente, Marco Enriquez-Ominami, mais conhecido como MEO, ter tomado uma parte importante dos votos no primeiro turno, apostando em mudanças mais drásticas na política e ao se dissociar com seu partido da Concertación, existe clima de tensão em relação a decisão final deste domigo.

Este candidato obteve apoio crucial de vários eleitores, principalmente jovens porém, e apesar de ter superado as expectativas de votos, não foi suficiente para mobilizar mais intensamente a camada jovem da população, geralmente desinteressada com a política, para ação. No entanto, sua participação foi crucial e seu votos agora são um fator determinante no resultado final.

O candidato Piñera, poderá beneficiar-se dos votos nulos e brancos (provenientes em grande parte dos eleitores que apoiavam MEO) já que este liderava no primeiro turno. Mas, lógicamente, boa parte dos votos de MEO e um outro candidato de esquerda, Jorge Arrate, irão ao candidato atual da Concertación, Eduardo Frei.

Por isso, o segundo turno de hoje promete ser um dos mais concorridos e emocionantes nas eleições do Chile dos últimos tempos. Se de um lado ganhar Frei, o país continuará provavelmente sem grandes mudanças estruturais na política do partido mas continuará no caminho certo ao continuar a base social que Bachelet começou. Se de outro ganhar Piñera, mudanças na política serão inevitáveis, e provavelmente boas para o país, mas há incerteza que a base social criada por Bachelet terá a continuidade que necessita para ter sucesso.

Porém, e e apesar de todas as possíveis diferenças entre os candidatos, a política econômica aparentemente não sofrerá grandes mudanças, de acordo com especialistas. Exatamente, no entanto, é impossível prever o que irá acontecer no terreno econômico, social ou político, mas qualquer que seja o presidente eleito hoje este deve levar em consideração as desigualdades sociais que ainda hoje assolam o país e buscar-se soluções que realmente levarão o país a sair da condição atual que vive: de terceiro mundo.

Geralmente se elogia muito o Chile por vários motivos e com muita razão, mas o fato é que se não houver real diminuição da desigualdade qualquer avanço será mera ilusão e no fim o grande vencedor não será o povo, que é o que se espera desta ou qualquer outra eleição.

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